Altinópolis X Mirassol, o dia em que cidade parou.

19 de dezembro de 1969, sexta feira. Doze ônibus da Viação Danúbio Azul com 440 altinopolenses rumam para a capital às 3:30 da madrugada. Desnecessário narrar os gritos que ecoavam da caravana nos 350 quilômetros da rodovia Anhanguera ainda com pista simples.
O apresentador Silvio Santos estava de férias e quem comandou os últimos quatro programas de Cidade X Cidade era o seu irmão, um tal de Léo Santos, figurinha desprovida de qualquer resquício de carisma.
A cidade estava ligada da TV Tupi canal 4 quando um grito de alegria superior a um gol de copa do mundo ecoa por toda a Altinópolis.


--- Silvio Santos vem aí, entoava o coral da orquestra regida pelo maestro Luís de Arruda Paes.
Silvio Santos em pessoa, ao vivo, com aquele terno escuro de nycron adentra ao palco cantarolando Agora é hora de alegria, vamos sorrir e cantar...
Na prova livre, Altinópolis vence com o quadro Altinópolis canta o verdadeiro Natal. O quadro Desfile à moda interplanetária de Mirassol não logrou êxito.
O novo quadro livre Altinópolis apresenta a Sinfonia do Café e perde para Mirassol com o quadro Sonho e Realidade.
Nervos à flor da pele. No quadro Responda ou Passe, Mirassol marcaria mais um ponto, vencendo a nossa representante, a professora de história Padrelhamem Salim Melis, agraciada recentemente com o seu nome no frontispício da Casa da Cultura de Altinópolis escrito com tinta de parede, em substituição ao nome de Bassano Vaccarini.
Os ânimos voltariam a melhorar com o quadro Show na Praça, onde o músico Uaib Sabino tocou vários instrumentos de sopro e marcaria mais um ponto a nosso favor. Mirassol apresenta o quadro Homenagem à Marinha. Mesmo perdendo para Uaib Sabino, o placar apontava 5x4 a favor de Mirassol.


Na vez dos cantores, Mirassol apresenta Magali Gonçalves com Viola Enluarada (Marcos Valle / Paulo Sérgio Valle) que perde para o nosso representante, o cantor Celso Miguel, interpretando O Conde (Jair Amorim e Evaldo Gouveia). Celso Miguel vence e empataria a disputa em 5 x 5. Os ânimos ficariam acirrados.
Na prova de chute ao gol, ambas as cidades marcariam dois pontos, agora com o placar de 7 x 7.
O próximo quadro seria uma doação em dinheiro à Santa Casa de Misericórdia adversária. Quem doasse mais ao antagonista ganharia. Mirassol, com 27 mil habitantes doou 18 mil cruzeiros novos, perdendo para Altinópolis que doaria 20 mil, com apenas 12 mil habitantes. O placar agora é de 9 x 7 a favor de Altinópolis.
No último quadro, Jogo de Palavras, Maria Helena de Castro Figueiredo arrasaria a adversária e selaria a vitória, com um final emocionante, dando um show de competência e serenidade. Placar final, 15 x 7 para Altinópolis.
Carnaval no palco e na cidade, todo mundo saindo às ruas e se abraçando numa emoção mil vezes mais honesta e festiva que vitória de futebol em copa do mundo.
O ponto marcado para a comemoração foi a sede do AFC, com muita festa e abraços que vararam a madrugada. Inesquecível o orgulho e o civismo estampado no rosto de todos.
O cantor Celso Miguel, um filho da terra e então crooner da orquestra Laércio de Franca, ficaria marcado na cidade onde faria vários shows na sede do AFC.
O quadro Cidade contra Cidade sairia do ar em pouco tempo. Uma pena, pois competições amadoras deste nível enobrecem o espírito e propiciam alegria e convívio, interatividade em toda comunidade.
O que se vê nos últimos tempos é o monopólio das atenções voltadas para meia dúzia de modelos analfabetos e trancafiados meses a fio num estúdio fantasiado de casa, num ambiente repleto de câmeras a registrar os maiores picos de audiência de uma nação hipnotizada e impotente diante do nada, domesticada pelo socialismo gramciano imperante em toda a rede federal de ensino, nas universidades e nas grandes redes de TV. Basta olharmos para uma banca de jornal que veremos a cara do nosso país.