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Dr. Alberto Crivelenti (1917 - 1976), ícone de retidão.

by José Márcio Castro Alves
Ele foi o último representante de uma época de glórias em Altinópolis, pois jamais admitiu que se colocasse um parente ou qualquer amigo na prefeitura. Foi um prefeito e não um charlatão, pois pregava abertamente que os negócios públicos não devem ser confundidos com interesses privados. Médico pela Escola Nacional de Medicina do Rio de Janeiro, dedicaria a sua vida à educação e à grandeza moral do seus compatriotas. Casou-se com a conterrânea Ignez Viccari e tiveram quatro filhos. Educador e jornalista, lia muito e escrevia sobre temas universais. Poeta, queria consertar o mundo. Pediatra e clínico geral, consultava e receitava sem pedir nada em troca.
Nunca foi político. Por imposição natural dos amigos e dos familiares aceitaria a contragosto provar o veneno que jaz nas teriagas da cadeira do chefe do executivo municipal.

Assumiria a prefeitura de Altinópolis em 1973, após dedicar a sua vida de médico em prol da saúde coletiva. Fez-se por si e jamais cobrou o fiado prometido de uma consulta, principalmente dos mais pobres.
Dono da fazenda Sobradinho, a primeira a implantar, no inicio dos anos 1960, a curva de nível como prática de conservação do solo. O filho mais velho e um fiscal administravam a fazenda. O Dr. Alberto possuía um caderno de anotações onde constava seus haveres de médico com inúmeros não pagadores. Rasgou o caderno e o atirou no fogo, na frente de testemunhas que até hoje se emocionam com a personalidade do ídolo Dr. Alberto, ícone de retidão, lealdade e prontidão.
No dia da vitória como prefeito, durante a carreata que comemorava a sua eleição, bem na esquina da praça central, de chofre, ele sofreria uma queda de um caminhão e quebraria uma perna. A bengala se faria companheira daquele prefeito que andava de terno e chinelos pelas ruas, atendendo pessoalmente as reivindicações dos populares com respeito e naturalidade, caracteres que marcariam toda a sua vida.

Aos 59 anos adoeceu e rumou para um leito de hospital.
Segundo um dos mais antigos funcionários da prefeitura, o Sr. Oldemar Brondi, foi durante uma visita ao hospital que o Dr. Alberto Crivelenti lhe confessaria:
--- Eu não volto mais pra casa.
Em 23 de Dezembro de 1976 cerraria os olhos e o seu corpo seria velado na sede do Altinópolis Futebol Clube. Milhares de anônimos de todas as matizes e credos prestaram-lhe a última homenagem com a humilde presença, numa demonstração de gratidão por tudo que o Dr. Alberto Crivelenti significara para a comunidade. O vice, Celso Vicentini Zuccolotto, assumiria a prefeitura e venceria as próximas eleições.
Uma avenida e uma estátua numa pracinha rente à mesma levam o nome Dr. Alberto Crivelenti, mesmo a contra gosto de alguns opositores que se manifestariam contrários à justa homenagem.

Oldemar Brondi relembra o Dr. Alberto Crivelenti


Dr. Alberto Crivelenti, o último prefeito de Altinópolis na concepção integral da palavra, morreria quando a Figueira símbolo da cidade, defronte à Igreja Matriz, ainda frondosa, dava sombra fresca à uma muralha de ladrilhos avermelhados junto ao ponto de táxi, onde as pessoas se sentavam pra jogar conversa fora e apreciar a vida passar. Contornando o coreto, um tanquinho de água limpa servia de habitat à piabas e piaus do Sapucahy, onde morava também a doçura da infância e o frescor das inúmeras almas puras. Os burburinhos da pracinha anunciavam sempre um dia de festa naqueles doces tempos ditosos.
Um calçadão fora construído em frente à Igreja Matriz e asfixiaria lentamente a figueira, plantada nos anos 1930. Com ela morreria também a Altinópolis, lentamente, onde nasci e vivi os mais saborosos anos da minha vida.
Hoje, sob a sombra rala de uma árvore em coma, vê-se placas e mais placas de inaugurações enferrujadas, nomes e mais nomes escritos por encomenda em obras medíocres e não mais que obrigatórias, como transfigurações de grandes epopéias históricas em feitos corriqueiros.
No dizer de Euclides da Cunha, não há nada mais patético do que alguém decretar-se um grande homem ou construir a própria estátua, sem vida, sem glória ou qualquer significado.
Ao final de 1972, dias antes de eleger-se prefeito de Altinópolis, o Dr. Alberto Crivelenti fez um pronunciamento para ser veiculado no programa de rádio. Não foi ao ar. Ouçam a gravação na íntegra, palavras de um homem íntegro, coisa tão rara no Brasil.
Que Deus os abençoe.
José Márcio Castro Alves, nascido em Altinópolis no dia 11 de Julho de 1953





9 comentários:

  1. "A Figueira símbolo da cidade, defronte à Igreja Matriz, ainda frondosa, dava sombra fresca à uma muralha de ladrilhos avermelhados junto ao ponto de táxi, onde as pessoas se sentavam pra jogar conversa fora e apreciar a vida passar. Contornando o coreto, um tanquinho de água limpa servia de habitat à piabas e piaus do Sapucahy, onde morava também a doçura da infância e o frescor das inúmeras almas puras. Os burburinhos da pracinha anunciavam sempre um dia de festa naqueles doces tempos ditosos."
    A mais perfeita descrição daquela praça, lembrança viva do lugar onde passei minha infância. A cidade era mais bonita, acolhedora e pitoresca, a praça parecia interagir com a cidade e seus moradores, era a alma e o coração do lugar. Lamentável o que foi feito dela; da imponente Figueira; do coreto, palco de tantas brincadeiras, hoje seco e sem vida; e da entrada do Cine Emília. Esse conjunto era a identidade da cidade, um patrimônio a ser conservado. Hoje resta o quê?

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  2. Vivi em Altinópolis durante minha infância, adoro esta cidade, já morei em várias cidades como NATAL/RN, PORTO VELHO/RO, mas a cidade que eu mais me emociono ao lembrar é ALTINÓPOLIS/SP, fiquei triste ao saber da morte da Maravilhosa FIGUEIRA, onde criança eu brincava na sua sombra, há essas recordações me matam, eu tenho um sonho que é ir de novo a Altinópolis a cidade por mim amada que deixei aos 10 anos de idade no dia 09/05/1982, quando fomos para RONDONIA num ônibus da Viação São Bento, onde estou hoje, meu corpo está aqui mas minha alma está em ALTINÓPOLIS.

    EDSON ALVES
    E-MAIL: edsonalvesrc@ig.com.br
    PORTO VELHO/RO

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  3. marcio
    escrevo de goiania-go
    que saudade da acolhedora altinópolis
    dá um aperto no coração.

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  4. Fui juiz de Altinópolis e residi nela de outubro de 1970 a março de 1973. Gostei demais do blog e emocionei-me com ele pela lambrança de pessoas e imagens tão caras. Parabens ao seu autor.Classifico contraditoriamente meu comentário como sendo de anônimo, porque não compreendo os outros perfis. Mauricio Vidigal.

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    1. Obrigado pelo comentário, dr. Mauricio Vidigal. Muito honrado com suas palavras.

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  5. ZÉ,

    QUE DELICIA VER,LER E OUVIR TANTA COISA LINDA. GRATIDÃO.

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